29 de setembro de 2025

Como uma biblioteca ilimitada no Spotify pode prejudicar a forma como ouvimos música

Eu estava pensando sobre como escutamos música hoje e como escutávamos antigamente. E uma das diferenças claras pra mim, é a maneira que escutávamos o álbum inteiro. Seja o vinil, CD ou o álbum baixado nos falecidos Limewire, Ares, eMule e afins.

Parece que perdemos o tesão de ouvir e curtir um disco inteiro, e acredito que uma das coisas que cooperam pra isso — além dos próprios artistas/bandas pecarem em priorizar hoje o single mais do que a construção de um disco inteiro é a falta de limite de hoje em dia. Embora “ilimitado” possa soar bem aos nosso ouvidos, não parece bom na prática.

Quando se tem uma biblioteca ilimitada como temos hoje no Spotify e etc, parece que perde a magia de ouvir música. Antes, ouvir música custava disposição, tempo e dinheiro, então se tornava mais valioso ouvir música, pois o acesso era mais limitado, então realmente você precisava curtir e aproveitar aquela música e aquele disco. Hoje parece que só descartamos a música; não temos mais posse, e o que o algoritmo me indicar, eu simplesmente, eu aceito.

“Ilimitado” pode soar bem, mas não é bem assim.



1 de setembro de 2025

A Fotografia e contemplação do tempo

Eu gosto de ver como a fotografia captura os enredos da vida. A fotografia nos últimos anos tem me ensinado novas coisas sobre a vida, que muitos anos atrás eu não havia aprendido, porque usava a fotografia apenas como um meio de ganhar dinheiro e não como um meio de ver o mundo também. Um meio de se expressar, de contar histórias, de encapsular o tempo e outras coisas muito além de dinheiro. 

Por exemplo, a fotografia pode nos ensinar sobre paciência. Uma vez que você precisa esperar muito para encontrar uma boa composição ou cena acontecendo na fotografia de rua ou paisagem. Ela pode nos ensinar sobre que o coração do homem pode planejar o seu caminho ou o seu dia, mas o Senhor lhe dirige os passos. Ou, que não temos o controle de tudo, por mais organizado que você seja, porque ao planejar o seu dia para fotografar, esse dia pode não render boas fotos como você esperava ou o clima pode não estar tão favorável para as cenas. Daí você aprende uma outra lição dentro desta, que é: eu posso aproveitar o momento.

Por mais errado que possa ter dado seu dia, imprevistos, chuva, ventos fortes, perdeu um bom momento do sol ou perdeu uma boa cena, enfim, suas fotos podem não ter valido a pena, mas aproveite o momento. Você conseguiu sair de casa, sentiu um pouco da rua, da natureza, viu pessoas novas, coisas novas. Nem todo momento precisa ser fotografado, você só precisava estar ali mesmo. Aproveite e agradeça a Deus pela saúde e o ar em seus pulmões e que mesmo depois de algumas frustrações com as fotos, você tem uma casa para voltar, você tem uma esposa e filhos para voltar.

Ou seja, a fotografia pode nos ensinar que nem tudo é como planejamos, mas posso tirar proveito disso tudo. 

Ela também me ensina que embora o tempo passe, você consegue segurá-lo nas mãos. No dia 14 de agosto eu estava com minha filha no parquinho, e enquanto ela brincava, eu olhada ao redor do local pra ver se tinha alguma cena para fotografar, e eu tirei foto simples da rua, mas que a intenção era mostrar o contraste dos galhos da árvore entre os céus. Não achei a foto tão boa para compartilhar e resolvi guardar. Depois no dia 30 de agosto eu volto no mesmo parquinho e olho de novo para a árvore que eu tinha fotografado duas semanas atrás, e percebi que ela está cheia de folhas, sendo que no dia 14 ela estava toda seca, sem nenhuma folha. Fiquei surpreso em ver aquilo, era como se eu tivesse de fato vendo as estações mudando o meu ambiente e não apenas sentindo a mudança através do clima, mas agora era como se realmente eu estivesse assistindo aquilo. É um indício de que o inverno está terminando e a primavera está próxima.

Então aqui eu aprendi a beleza da contemplação do tempo. Fotografar um lugar e depois de um tempo (longo ou não) você ver como aquele lugar mudou, parece que você consegue segurar o tempo nas mãos, mesmo que ele continue passando.

E também por eu ter guardado aquela foto do dia 14, sem ter compartilhado ela, aprendi que realmente nem tudo precisa ser exposto, compartilhado como uma frenética busca por viralização ou engajamento. Ou seja, fotografar para guardar também é importante, isso muda muito mais quem fotografou do que quem vê a foto depois.

Foto da árvore no dia 14 de agosto
Foto da árvore no dia 14 de agosto

Foto da mesma árvore no dia 30 de agosto.


26 de agosto de 2025

Conhecendo o Recorte Extremo (ou "intense cropping" se preferir)

Essa semana eu me deparei com uma ideia ou uma “técnica” de recorte extremo de uma fotografia, trazendo uma nova visão, uma nova história e uma nova expressão e composição para uma foto já pronta.

Eu acredito que seja mais uma forma de expressão artística do que uma técnica clássica de fotografia (mesmo assim, posso estar errado).

Gosto de usar essa técnica em uma foto já feita do que clicar uma cena já pensando no recorte extremo. Você pode fazer isto? Sim, você pode fazer o que quiser na sua fotografia, mas acho desnecessário. Eu prefiro usar o recorte extremo para reciclar novas fotos em fotos “velhas”. Talvez, pegar aquela foto que está parada, engavetada empoeirando no seu HD ou nuvem, e trazer à ela uma nova visão, uma nova composição, selecionando um novo recorte para aquele clique.

Todo clique é um recorte do mundo. Toda cena clicada é um pequeno grande recorte de um todo. Mas o recorte extremo pode ser uma oportunidade para uma nova comunicação ou expressão.

Acredito que caia bem em uma construção de projeto específico e original.

Criar um estilo de recorte próprio pode ser uma marca de um fotógrafo, sem medo de quebrar as regras clássicas. Há críticos que vão chamar isso de trabalho de preguiçoso ou abstrato demais, que acaba tirando o conceito da fotografia de documentar e registrar uma realidade à sua frente. Mas, acredito que isso é uma das formas de expressar sua arte e sua visão, é como se fosse uma pessoa que consegue observar algo novo dentro de uma sala, onde ninguém está olhando para aquilo. Ou seja, fotógrafos artistas que ousam nesses recortes podem estar só querendo mostrar algo novo que ninguém está olhando, trazendo então uma nova reflexão de algo ou lugar. Ou simplesmente só querem reciclar aquela foto engavetada, que pra mim, também é muito válido.

Recorte extremo que eu fiz

Na foto a cima está um recorte extremo de uma cena inteira que eu tirei da praia de Santos. Um recorte que eu isolei um canto da foto, trazendo detalhes visuais, texturas evidentes, emoções e narrativas que muitas vezes passam despercebidas.

E abaixo está a foto original.

Foto original do recorte extremo mostrado a cima.


A minha foto original da praia já era bela, porque não tirei ela pensando no recorte extremo e sim construí a composição dela para que ela fosse boa por si só. Porém, por algum motivo, não senti de compartilhar ela, mas ao revê-la nos meus arquivos, decidi aplicar o recorte extremo pra ver o que poderia extrair de novo dessa foto e gostei muito do resultado.

Em tempos de redes sociais saturadas por padrões visuais repetitivos — filtros, proporções perfeitas, montagens padronizadas — recortes ousados oferecem uma alternativa refrescante. Em vez de buscar a perfeição técnica ou repetir fórmulas consolidadas, o recorte extremo encoraja a inspiração criativa, encontrando novas histórias em fotos já feitas e traz uma subversão da vaidade visual que é encontrada nos feeds.

Nem toda fotografia precisa ser compartilhada, as vezes só vale o sentimento de ter fotografado aquela cena e vivido aquele momento, do que necessariamente compartilhar tudo. Mas, toda fotografia em algum momento merece uma segunda chance de ser observada de novo e reconstruída se possível, trazendo à ela, um novo sentimento.

Experimente pegar aquela foto antiga que está guardada nos seus arquivos e dar uma nova visão pra ela.

Eu fico por aqui. Obrigado.

6 de julho de 2022

Vamos falar sobre Zines e por que você deveria criar um

Zine do Greg Kletsel

Quero mostrar os primeiros passos do meu primeiro zine que estou fazendo. Ainda tenho muito o que fazer, estou na etapa analógica da coisa, com papel, lápis e canetas, pra depois partir para o digital, arrumar alguns erros e diagramar.

Mas, antes de mostrar… primeiro, o que é um zine?

Vou resumir bem o assunto. Zine é um livro auto-publicado. É como uma pequena revista auto-publicada. O nome é a abreviação de revista no inglês (magazine), então, é como se estivesse no meio entre um livro e uma revista, mas ele não é nem um, e nem o outro de fato.

Ele pode ser sobre qualquer coisa: política, ativismo, arte, fanzines, cultura pop, história, culinária, escrita, literatura, poesia, enfim. Realmente pode ser sobre qualquer coisa que você quiser e essa é a beleza dos zines.

Você pode fazer no seu quarto, imprimi-los em uma impressora em casa ou em uma gráfica, grampear e/ou dobrar. Chame seus amigos, compre uma pizza, compartilhe a experiência da auto-publicação com eles.

Eu acredito que as pessoas ainda gostam de ter algo feito à mão e algo físico, hoje vivemos em um mundo digital onde existe apenas consumidores. Só ficamos deslizando, deslizando e deslizando o dedo. É algo temporário. Mas um zine é algo físico. Você pode ter uma pequena coleção de zines.

Zines são trabalhos de amor. São coisas com as quais as pessoas querem compartilhar um pouco de seu mundo com você. Elas querem comunicar algo; suas experiências, suas paixões, suas histórias e ideias com você.

Você pode começar com uma pequena ideia que você compartilhou no seu Instagram mas daí você percebe que tem potencial aquela ideia, então você pensa “hmm…eu posso ver isso como uma série…” e então, você faz outra imagem e depois faz outra e diz: “Isso poderia virar uma pequena coleção” daí você pode colocá-los juntos em um pequeno livro ou coisa do tipo. Isso é zine!

Faça por diversão, torne-o o mais barato possível, o mais acessível possível. Digamos que você faça 100 cópias, vá e distribua, venda, faça um pequeno site, coloque em sua loja ou coisa do tipo.

Posso dizer que quando você faz isso, você aprende algo sobre si mesmo, e isso é algo para levar com você para o próximo projeto, para o próximo trabalho que você fizer.

Zine de Greg Kletsel

No meu caso, voltar a fazer projetos físicos com as próprias mãos realmente tem me feito a aprender algo sobre mim mesmo, tenho me conhecido real, quais são os meus traços que realmente comunicam o que eu quero, quais são os meus limites e etc… porque estou evitando a sindrome da perfeição em minha criação por causa do digital que me vicia usar sempre o CLTR Z, e aprendo que um pouco de imperfeição também pode compor a obra e me tirar da zona de cobrança de perfeição demais, me deixando estressado e desmotivado… e tenho gostado disso, tenho me conhecido novamente.


*Alguns trechos da explicação sobre o que é zine foi retirado e adaptado de um vídeo sobre zines do Greg Kletsel para me ajudar na explicação de forma fácil. Greg é o ilustrador que mais tem me inspirado nos últimos meses.